EncontrosCom uma História às Costas!
Sabemos que o tempo não para, que a vida não volta atrás e que não se escapa do passado. Da mesma forma, a noção que temos do presente ou do futuro é inevitavelmente influenciada pela nossa compreensão desse mesmo passado. Sabemos, portanto, que todas as Casas de Acolhimento de crianças e jovens tem a sua história e identidade, assim como todas as crianças e jovens que aí são acolhidas trazem a sua história particular às costas.
Saber de onde viemos, para definir onde estamos e para onde queremos ir! Este foi o mote com que o Colégio de São Caetano, com a colaboração da Equipa de Gestão de Vagas do centro distrital de Braga do Instituto de Segurança Social (ISS, I.P.), desafiou as casas de acolhimento de crianças e jovens do distrito de Braga, para um ENCONTRO DE REFLEXÃO E PARTILHA. Para nos ajudar podemos contar com a inspiradora presença da Dr.ª Helena Simões e da Dr.ª Dina Macedo, do Departamento de Desenvolvimento Social, Unidade de Infância e Juventude, dos Serviços Centrais do ISS, I.P., para que juntos pudéssemos refletir sobre o passado, mas com olhos postos no presente e futuro do acolhimento de crianças e jovens.
Concluímos como imprescindível analisar o percurso dos modelos de intervenção associados ao acolhimento residencial, compreendendo as suas mudanças e as suas transformações, bem como a reflexão sobre o atual modelo de organização e intervenção das nossas Casas de Acolhimento.
O acolhimento institucional remonta, de forma mais organizada, ao século XVI, com a criação de grandes instituições, de cariz assistencialista, fundamentadas na caridade e no paternalismo, onde as crianças eram inseridas por tempo indeterminado, sem qualquer distinção, com objetivo único de satisfação das necessidades básicas e da introdução de valores de disciplina e obediência.
Já no século XX, no decorrer de acontecimentos políticos, jurídicos e sociais, como a Lei de Proteção à Infância, a Lei Tutelar Educativa, a criação dos tribunais de menores, entre outros, o modelo institucional sofreu mutações que afetaram o seu paradigma teórico e prático, dando sequência ao designado modelo familiar. O modelo familiar promove instituições com abertura à família, à comunidade, preocupando-se com a educação integral da criança e jovem, com o seu desenvolvimento biopsicossocial e com a planificação, concretização e participação ativa no próprio projeto de vida.
O modelo terapêutico é ainda recente no acolhimento institucional, verificando-se que grande parte das instituições seguem ainda as orientações do modelo familiar ou encontram-se na transição do modelo familiar para o modelo terapêutico. Este promove um acompanhamento dinâmico, personalizado e especializado, centrado em objetivos convenientemente elaborados (projeto individual) e num ambiente seguro e estável, pensado para potencial o efeito reparador, educativo, relacional, de suporte e proteção à criança e jovem, em articulação com as famílias e a comunidade (Whittaker, Del Valle & Holmes, 2015). Este modelo, também identificado como modelo socioeducativo de potencialidades e de empowerment, objetiva não só a transformação interna da criança e jovem, como também o respeito pela individualidade e a valorização da diversidade em contexto institucional e social.
Perante este quadro descritivo, a experiência e o quotidiano das nossas Casas de Acolhimento, leva-nos a considerar a evidente necessidade de reflexão sobre a dinâmica institucional das mesmas e dos mecanismos de intervenção de modo a adaptarem-se às necessidades apresentadas pelas crianças e jovens acolhidos e aos quais tem de ser prestada uma intervenção reparadora de qualidade.